Conheça Barry Seal



Conheça um pouco sobre Barry Seal, piloto da CIA e informante da DEA, através da conversa entre seu filho e filho de Pablo Escobar, Juan Pablo Escobar, publicado no livro Pablo Escobar Em Flagrante O Que Meu Pai Nunca Me Contou.

Tom Cruise interpretará Barry Seal nos cinemas, a produção chamará "Mena" e  começou em maio deste ano na Geórgia, nos EUA, e está a cargo de Doug Liman, diretor de outros filmes de ação como "A identidade Bourne", e produtor de "O ultimato Bourne".




CAPÍTULO 1
NA PISTA DE BARRY SEAL

   Aaron Seal:
Olá!
  Juan Pablo Escobar:
Olá, Aaron, tudo bem? Esta conversa é muito importante para mim, o fato de entrarmos em contato.
   A.S.:
Para mim também.
   J.P.E.:
Quantos anos você tem?
   A.S.:
Acho que sou alguns meses mais velho que você. Nasci em outubro de 1976. Você, se não me engano, em fevereiro de 1977.
   J.P.E.:
Me diz uma coisa, você chegou a conhecer bem seu pai? Teve tempo de conviver com ele?
   A.S.:
Quando ele foi morto, eu tinha 9 anos. Não tive muito tempo para conviver com ele, mas foi bom enquanto durou.
   J.P.E.:
E você se dava bem com ele?
   A.S.:
Sim, antes de matarem ele, sim. Era um homem bom, era bom com sua família. Tenho um irmão 1 ano e 3 meses mais velho que eu e uma irmã 3 anos mais nova. Além disso, tenho dois meios-irmãos do casamento anterior de meu pai, eles devem ter uns 45 anos. Nunca tive relação com minha meia-irmã. E a relação com meu outro meio-irmão é distante.
   J.P.E.: Eu tenho uma irmã mais nova, de 32 anos. Ela e minha mãe estão bem, graças a Deus. Bom, você sabe bem o que é uma guerra e quais são suas consequências. É um verdadeiro milagre estarmos vivos.
   A.S.:
Sim, amém.
   J.P.E.:
Sim, foi uma guerra muito dura e não queremos que isso se repita. Não queremos seguir os passos de meu pai.
   A.S.:
Eu segui os passos do meu por muitos anos. Bom, não fui tão longe quanto ele, mas segui seu caminho em muitos sentidos. Me envolvi com o tráfico de drogas. Costumava ir ao México buscar drogas – medicamentos controlados, por exemplo. Depois me envolvi pesado com o uso de drogas e passei muitos anos lutando contra o vício. E o Senhor me resgatou. Agora sou pastor e estou casado há quatro anos e meio. Finalmente encontrei uma mulher que me aguenta.
   J.P.E.:
Eu estou casado há treze anos, mas moramos juntos há vinte e quatro. Tenho um filho, Juan Emilio, de 3 anos e meio. Esperamos muito tempo para ter filhos porque sentíamos que seria uma responsabilidade muito grande. Quando pensávamos em seu futuro e no momento certo para termos filhos, as respostas não eram muito claras. Finalmente, Deus nos deu um grande presente, um garoto muito nobre, saudável e inteligente. Aaron, como está sua mãe?
   A.S.:
Se eu dissesse que está bem, estaria mentindo. Está viva, está bem, mas às vezes seu emocional desmorona. Ela não conseguiu superar o passado – não apenas no que diz respeito ao meu pai e à morte dele, mas também à vida que levou com ele. Para ser honesto, ela nunca superou isso.
   J.P.E.:
Por favor, diga a ela em nome de minha família que pedimos perdão pela morte de seu marido.
   A.S.:
Ela não guarda nenhum rancor contra ninguém, só não conseguiu superar a dor com a qual precisa lidar. Não só pela morte de meu pai, mas por tudo relacionado a ele, pela angústia que sentia por aquela vida, com a polícia atrás deles, enfim. Ela realmente nunca conseguiu superar. Não sei se tive a oportunidade de comentar com você que minha mãe e eu conseguimos entrar em contato com duas das pessoas que dispararam contra o meu pai e dissemos que não guardávamos ressentimentos, que não havia sido culpa delas, porque meu pai tomou as próprias decisões durante a vida. Quando falo isso, me perguntam como fui capaz de perdoar os homens que dispararam contra o meu pai. Eu respondo: “Olha só, os homens que dispararam contra o meu pai não mataram ele, porque o pecado também matou o meu pai de mil maneiras diferentes. Um exemplo é a cobiça”. Assim, para nós meu pai é o único responsável pelas decisões que tomou em vida. Nós o amamos e sentimos sua falta, mas falo por mim e por minha mãe: é assim que nós vemos as coisas. Não posso falar por mais ninguém.
   J.P.E.:
Não consigo encontrar a palavra certa em inglês, mas acho que pensando assim você encontrou a paz.
   A.S.:
Sim. Quando exerço meu trabalho de pregação e as pessoas me dizem que não querem perdoar alguém, eu digo que desse jeito elas não estão causando dano a quem causou o mal, mas apenas a si mesmos. Eu digo: “Você acha que está prejudicando eles, mas só está fazendo mal a si mesmo”.
   J.P.E.:
Concordo plenamente. Queria saber se poderia enviar para você um exemplar do livro que publiquei sobre meu pai, o título é Pablo Escobar, meu pai.
   A.S.:
Claro, foi justamente por esse livro que eu te encontrei.
   J.P.E.:
Escrevi esse livro com muitas lágrimas, mas sem odiar ninguém. Meu compromisso é com a verdade e com o que aconteceu, é escrever sobre as lições de vida de meu pai – as quais eu não segui. Não escrevi esse livro com a intenção de justificar nenhum de seus atos violentos. Se tentarmos esconder o que sabemos e fugirmos de nosso passado, não aprenderemos nada enquanto sociedade. Hoje vemos muitas séries de TV sobre a vida de meu pai, e isso gera mudança na sociedade. Agora os jovens sonham em se tornar narcotraficantes, porque só conseguem ver a parte que mostram a eles; acham que tudo é uma grande festa, mas não é assim, não foi isso que vivemos ou sentimos. Estão transformando meu pai em uma espécie de super-herói do submundo, é isso que está acontecendo.
   A.S.:
Isso mesmo. Não sei se você sabe que estão fazendo um segundo filme sobre meu pai, que se chamará Mena. A equipe de produção me disse que uma de suas tias por parte de pai pediu que enviassem uma mensagem para minha mãe.
   J.P.E.:
Olha, eu não tenho nenhuma relação com a família de meu pai. É algo que explico melhor em meu primeiro livro. Houve uma traição familiar contra meu pai, que descobri somente quando ele morreu. Esperamos traições de qualquer pessoa de fora de nossa vida e nossa família, mas nunca de alguém de dentro.

   A.S.:
Passei por coisas semelhantes, porque muita gente que deveria cuidar das finanças de meu pai, inclusive membros da família, saltou em cima dos restos no instante em que ele caiu morto, e nós fomos abandonados. Minha mãe ficou sozinha com os filhos pequenos. Ninguém apareceu para devolver o que nos devia, levaram tudo, não sobrou nada. Por isso, sei bem do que você está falando. Até mesmo minha meia-irmã veio nos intimidar por termos prestado assessoria para o filme, já que meu pai era uma figura pública e eles queriam conhecer outras intimidades dele – como era a vida em família, por exemplo. Ela me confrontou por termos recebido dinheiro ao prestarmos assessoria sobre a história de meu pai. Quer parte do dinheiro que recebemos. Veja bem: trinta anos se passaram desde a morte de meu pai e ainda tenho problemas com os parentes. Quando estávamos juntos, supostamente havia muito amor entre nós, mas quando meu pai morreu não sobreviveu nada.
   J.P.E.:
Mudando de assunto, queria perguntar se você sabe que no cartel de Medellín seu pai era conhecido como Mackenzie.
   A.S.: Sim, claro que sei. O apelido vinha de Ellie Mackenzie, afro-americano, capitão do navio de pesca de camarão que meu pai utilizava para suas operações nos Estados Unidos. Era o responsável por recolher os carregamentos que meu pai lançava sobre o mar. Meu pai era um bom amigo de Mackenzie e pediu para usar seu nome em um documento que apresentaria para assumir uma vaga de emprego. Meu pai colocou uma fotografia de si, mas usou o nome do amigo, e assim começou a trabalhar no cartel de Medellín. Mackenzie teve um final lamentável: pouco depois da morte de meu pai, o corpo dele foi encontrado com sinais visíveis de tortura.
   J.P.E.:
Na pesquisa que realizei para um capítulo do novo livro, ficou claro que o seu pai era muito audaz e, por isso, teve uma relação muito próxima com o meu.
   A.S.:
Não era só audaz; era excessivamente audaz. Existe um vídeo do dia em que meu pai fez o primeiro teste para lançar e rastrear um carregamento de cocaína desde um helicóptero. Nas imagens, dá para ver diversas patrulhas da polícia bloqueando algumas ruas em uma cidade. Meu pai enganou os policiais e  pediu que a zona fosse interditada para evitar um acidente com a carga que estava levando, alegando se tratar de uma nova técnica para auxiliar agricultores a receber adubo e outros insumos. No vídeo, dá para escutar meu pai dizendo “lá vão os primeiros 300 quilos de cocaína!” enquanto vemos os policiais que monitoravam a região.
   J.P.E.:
Muito impressionante, Aaron. Mudando de assunto mais uma vez, qual é sua opinião sobre a guerra contra as drogas?
   A.S.:
Naquela época, meu pai me dizia para ficar longe delas porque todas eram absolutamente maléficas. Mais tarde, comecei a usar drogas, a primeira foi maconha, e até hoje não vejo problemas em seu consumo, mas depois eu mergulhei mais fundo e injetei heroína e morfina durante muitos anos. Cheguei ao fundo do poço e quase morri em diversas situações. Logo que me tornei pastor, virei um opositor ferrenho das drogas. Continuo pensando da mesma maneira, porque elas podem destruir a vida de uma pessoa. Mas a forma como o governo trata a regulamentação é um equívoco. Acredito que todas as drogas devem ser legalizadas e devem pagar impostos. Esse me parece o único jeito de evitar que o passado se repita. Na igreja, entrei em contato com pastores que atuam na Europa, e um dos exemplos que mencionam é o caso da Holanda. Para mim, tudo deveria ser legalizado, sobretudo a maconha, que nos Estados Unidos já é praticamente legal. A maconha é mais segura que o Tylenol. Eu sei que usar drogas pesadas é ruim, mas a maneira como o governo aborda o problema também não é boa. O melhor seria cuidarem de seus próprios negócios. Se um adulto responsável quer se envolver com heroína, o problema é dele, e ninguém tem o direito de proibi-lo. Nenhum órgão do governo tem o direito de dizer o que podemos ou não fazer a nós mesmos. Acredito que isso é um direito que Deus nos deu, e cabe a nós a decisão de usar drogas ou não.
   J.P.E.:
É muito complicado abordar essa questão, porque envolve a vida de muitas pessoas. Há muito dinheiro em jogo, e a proibição é um grande negócio, porque, se as drogas fossem legalizadas nos anos 1980, quando nossos pais estavam vivos, é bem provável que eles nunca tivessem se conhecido.
   A.S.:
Sim, até porque sei que meu pai só entrou nesse negócio por dinheiro. E presumo que seu pai também estivesse atrás de grana. Ou seja, se não tivesse dinheiro na jogada, eles não estariam lá.
   J.P.E.:
É verdade. E é por causa da proibição que enfrentamos esse tipo de violência. Acredito que a sociedade precisa encontrar outra solução para essas questões. Tenho um tio por parte de mãe que morreu muito jovem e experimentou praticamente todas as drogas disponíveis, menos heroína. Começou a fumar maconha aos 11 anos. Nós o submetemos a todos os tipos de tratamento; ele saía limpo dos centros de reabilitação, mas após diversas recaídas se deu por vencido e nunca conseguiu sair dessa vida. Sempre que saía de casa, acabava nas drogas. O irônico nessa história é que ele morreu por causa de uma droga legal: o cigarro. Passou a vida inteira tentando se matar com drogas ilícitas, mas foi uma droga legalizada que acabou com sua vida. Portanto, conhecemos bem o drama familiar que pode surgir quando alguém se envolve com as drogas.
   A.S.:
Sei bem como é, acredite.
   J.P.E.:
As drogas não discriminam. Estão disponíveis para todos, ninguém está realmente seguro. Deixe-me contar uma história: quando eu tinha 8 anos, meu pai me chamou para conversar sobre drogas na fazenda Nápoles. Ele me mostrou todas as drogas disponíveis no mercado da época. Eram umas dez, dentre as quais a cocaína, a maconha, o crack e o LSD. Ele admitiu ter experimentado a maioria, mas disse jamais ter usado heroína. Então, acrescentou: “Quando tiver vontade de experimentar alguma, prefiro que façamos isso juntos. Porque é preciso ter muita força para nunca provar”. Aaron, essa frase é muito importante para mim, porque veio de um homem que vendia drogas. Ajudou a matar minha curiosidade.
   A.S.:
Também tenho essa impressão, porque conhecemos ângulos muito diferentes. Por exemplo, o lado de meu pai ao vender e o meu ao consumir.
   J.P.E.:
Por isso, precisamos encontrar um maneira de compartilhar e conviver com essa realidade. Não é uma guerra em que vence quem tiver mais armas. Isso não acaba com a situação – e a deixa ainda pior.
   A.S.:
Sim. Em vez de guerra contra as drogas, precisamos de paz com as drogas.
 
           Àquela altura, já estávamos conversando havia cerca de trinta minutos. Não conseguimos conter a risada após este último comentário.


   A.S.:
Quando fizermos uma turnê mundial para falar sobre o que aprendemos, talvez fosse uma boa ideia usar esta expressão: paz com as drogas. Não me parece apropriado que o governo fale em guerra contras as drogas, porque eles criam uma guerra para tudo. E todas as guerras que eles criam acabam piorando a situação após trinta anos. Por exemplo, falaram da guerra contra a pobreza nos anos 1960 e 1970, e agora temos mais pobres do que antes. A mesma coisa com as drogas: hoje existem mais tipos, e elas são mais fortes. As Sagradas Escrituras dizem que, um dia, o leão se deitará ao lado do cordeiro. Essa é uma imagem profética para a paz na terra.
           Minha mãe não quis continuar morando em Baton Rouge. Ficava incomodada, porque perguntavam sobre meu pai o tempo todo. Mas minha esposa e eu continuamos morando lá. Antes disso eu morava com minha avó, porque estava com muitos problemas de drogas, e ela garantiu que eu sempre tivesse um teto onde morar. Ela faleceu recentemente. Ah, tive a grata oportunidade de ver seu documentário Pecados de mi padre.

   J.P.E.:
Foi uma experiência incrível porque, além de me reencontrar com as vítimas de meu pai, eu tive a chance de voltar
à Colômbia após catorze anos. Uma das pessoas que aparecem no documentário é Rodrigo, um dos três filhos do ministro Rodrigo Lara Bonilla, assassinado por ordem de meu pai em 1984. Apesar de tudo, consegui me tornar amigo de Jorge, o mais novo deles. Nosso processo de reconciliação não se limitou ao documentário: alcançou outros rincões e famílias em busca da mesma coisa.
   
A.S.:
Sim, claro. E se você quiser atrair mais atenção dos meios de comunicação, deveríamos arranjar um visto para que você me acompanhe no tapete vermelho durante a estreia do filme Mena. Ao nos verem juntos, eles perguntarão o que estamos fazendo, e poderemos responder que estamos unidos pela prevenção do consumo de drogas e contra a glorificação do narcotráfico.
   J.P.E.: Por falar nisso, quero compartilhar com você algumas histórias sobre meu visto. No passado, cheguei a ter um visto durante quinze anos, mas ele foi cancelado em 1993 em razão da perseguição ao meu pai quando ele ainda estava vivo. Em 2010, fomos convidados a apresentar o documentário Pecados do meu pai no Sundance Film Festival, nos Estados Unidos, e fui
à embaixada norte-americana em Buenos Aires pedir o visto outra vez. Apresentei cartas de convite assinadas pelo ator Robert Redford, que dirigia o festival, e também pela HBO, pelo Discovery Channel e pelo Council of the Americas, entre outros. Tive uma grata surpresa: uma semana depois, recebi em meu apartamento um visto com vigência de cinco anos. Fiquei muito contente, até que, alguns dias depois, me telefonaram para dizer que havia um erro.

         Obviamente, o erro estava ligado a meu parentesco com Pablo Escobar. Eles não sabiam para quem aquele visto era concedido, embora eu tivesse respondido só a verdade ao preencher os formulários, deixando clara minha identidade original.
   
         Assim que fui notificado do cancelamento, me disseram que eu tinha o direito de apelar. Para tanto, fui convocado para algumas reuniões com a DEA, a consulesa dos Estados Unidos e um representante do Departamento de Estado. O funcionário da DEA explicou que eu havia sido investigado durante anos e tinham certeza de que eu não estava envolvido com o tráfico. Portanto, certificaria que eu não apresentava nenhum risco para os Estados Unidos e que não se opunha a minha entrada em seu território. Mas o mundo é muito pequeno, e fiquei sabendo por algumas fonte que quem se opôs ao parecer que sugeria a concessão do visto foi Javier Peña, antigo agente da DEA na Colômbia. Aaron, retomando o assunto original de nossa conversa, como você conseguiu contatar as pessoas que mataram seu pai?


   A.S.:
Um amigo que tenho desde os 20 anos. Ele matou um homem a punhaladas e foi parar na prisão de Angola, onde Miguel Vélez, vulgo Cumbamba, cumpre pena. Alguns anos atrás, me deparei com uma reportagem que dizia que ele estava na unidade de doentes terminais de câncer; então, consegui seu e-mail e decidi mandar uma mensagem, até porque ele estava morrendo. Contei que minha mãe e eu não guardávamos ressentimentos. Ele me respondeu e começamos a trocar mensagens. Mas, quando a prisão soube disso, nosso contato foi interrompido. É que, tecnicamente, é contra a lei conversarmos. Sou considerado uma vítima de seus crimes e ele não pode entrar em contato comigo, o que de fato não fez. Os outros dois senhores que mataram meu pai estão no norte da Louisiana, onde moro. Um deles, Luis Carlos Quintero Cruz, soube por Cumbamba que havíamos conversado pelo Facebook, e começamos a trocar mensagens por uma conhecida em comum. Sabíamos que eles queriam uma nova audiência para tentar liberdade condicional. Minha mãe e eu dissemos que não víamos problemas em sua soltura, mas as autoridades disseram que não tinham motivo para fazê-lo e que eles deviam permanecer para sempre na prisão. Assim, embora houvessem nos perguntado se éramos a favor de sua liberdade, a verdade é que nunca se importaram com isso, porque a decisão de deixá-los na cadeia pelo resto da vida já havia sido tomada. Só não conseguimos contatar um dos homens, Bernardo Antonio Vásquez, porque ele nunca aprendeu inglês. Então, não houve jeito de falar com ele.
   J.P.E.:
O que eles disseram quando vocês entraram em contato?
   A.S.:
Quando falei com Cumbamba, ele ficou muito feliz. Contou que sua mãe pedira que ele fizesse as pazes com Deus por seus atos. Ele pintou a Virgem de Guadalupe na capela da prisão, pois é um grande artista. Também me disse que ficava agradecido por procurarmos ele e que meu perdão fazia com que se sentisse muito bem. Ficou tocado com nossas palavras. E a mãe do outro cara tinha dito que, antes de morrer, ele devia buscar o perdão de Deus e da esposa e dos filhos de Barry Seal.
   J.P.E.:
Você teve a oportunidade de perguntar para Cumbamba detalhes do dia em que seu pai foi morto?
   A.S.:
Ao longo dos anos, reconstituí todos os acontecimentos. Meia hora antes de matarem meu pai, ele estava com minha mãe e nós, seus filhos, comendo panquecas em uma lanchonete. De repente, um homem engravatado entrou no recinto e meu pai o encarou. O próprio Cumbamba me disse que ele era esse homem: ele vinha seguindo meu pai e viu a oportunidade de cometer o crime ali mesmo, na nossa frente. Também me disse que saiu do recinto e foi pegar a arma que estava no porta-malas do carro, mas justo neste momento apareceram diversos policiais e ele se viu forçado a abortar o plano. Quando terminamos de comer, meu pai foi para a sede do Exército da Salvação porque precisava cumprir o horário imposto pelo Juiz Frank Polazola. Ele saiu da lanchonete para ir ao encontro da morte. Cumbamba me contou que, na hora do assassinato do meu pai, ele estava no carro fumando um cigarro esperando que os outros dois pistoleiros fizessem a parte que lhes cabia: um deveria disparar e o outro tiraria fotos para que pudessem receber pelo assassinato. Anos mais tarde, eu tive a oportunidade de falar com os dois patrulheiros que foram os primeiros a chegar à cena do crime. Eles me contaram que, naquele momento surgiram diversos agentes federais. Contrariando o procedimento legal, esses agentes levaram os documentos de meu pai, que estavam no porta-malas do Cadillac. Os patrulheiros tentaram impedi-los, mas quase houve uma troca de tiros e no fim eles não puderem fazer nada. Tempos depois devolveram apenas uma parte dos documentos.
   J.P.E.: Quero agradecer a você e
à sua mãe pela generosidade e pela capacidade de perdoar. E pela mensagem de paz e reconciliação que suas palavras me trazem. Você e eu temos a oportunidade de tornar as coisas muito melhores. Acredito que esta é a finalidade de nosso contato.
   A.S.:
Isso mesmo. Chegou a hora de recuperarmos o tempo perdido. E você se sente ameaçado na Colômbia, Sebastián?
   J.P.E.:
Passei os últimos meses aqui na Colômbia. Aqui existe muita gente poderosa. Se alguém quisesse me fazer mal, já teria feito isso sem nenhum empecilho. Mas espero que os inimigos de meu pai não me considerem uma ameaça, porque não sou e nunca serei. Sou um homem de paz.


         Finalmente, trinta anos e sete meses depois de meu pai ter dado ordens para que o pai dele fosse morto, Aaron Seal e eu nos encontramos na Cidade do México. Era 27 de setembro de 2016.



#PabloEscobarEmFlagrante #OQueMeuPaiNuncaMeContou #BarrySeal #FeitoNaAmérica #TomCruise  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Triângulo do Medo - Christopher Smith - 2009

Os Filhos da Guerra - Minissérie

The Big Bang Theory - 10a Temporada